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Fernanda Nahas: a nutrição consciente é a melhor forma para alcançar hábitos alimentares saudáveis

Fernanda Nahas: a nutrição consciente é a melhor forma para alcançar hábitos alimentares saudáveis

28/10/2020
Fernanda Nahas: a nutrição consciente é a melhor forma para alcançar hábitos alimentares saudáveis

Mudar os hábitos alimentares em busca de um estilo de vida mais saudável nem sempre é fácil. Mas quando contamos com o acompanhamento de um nutricionista, adquirimos uma atitude mais consciente.

A pessoa se apropria de conhecimentos sobre os alimentos e seus impactos, entendendo melhor o lado fisiológico e sua ligação com o emocional também. Com isso, traça estratégias eficazes para dar os primeiros passos, planejar e organizar a alimentação de cada dia. E a mudança se torna duradoura.

Abordar esse papel fundamental do nutricionista é a nossa forma de homenagear este profissional neste 31 de agosto, Dia do Nutricionista. Para aprofundar o tema, trazemos a seguir uma entrevista exclusiva com Fernanda Nahas, nutricionista esportiva e funcional.

Sabemos que muitas pessoas possuem hábitos alimentares nada saudáveis, ocasionando quadros de sobrepeso e até de obesidade, impactando na saúde e na qualidade de vida.

Entre esse público, há aqueles que desejam mudar seu estilo de vida e se alimentar melhor. No entanto, não conseguem. Começam uma dieta e interrompem. Ou buscam a indicação de uma dieta, mas não aderem de fato. Ou fazem uma dieta da moda, sem orientação, e caem no ?efeito sanfona?.

 

1 - Na sua experiência, qual o primeiro passo para iniciar a mudança dos hábitos alimentares para alcançar um estilo mais saudável, de modo duradouro?

O primeiro passo é entender que pequenas mudanças importam. A pessoa pode começar com algumas alterações em seus hábitos alimentares e isso já servirá de estímulo. Obviamente, uma pequena mudança pode, inicialmente, não trazer grande resultado na balança. Mas é preciso enxergar isso como um progresso, valorizar a nova atitude e seguir em frente.

Focar em um ponto negativo nunca deve ser a postura para quem está nesse processo de alteração de hábito alimentar. Há aqueles que não cumprem a dieta em um único momento do final de semana e, em razão deste desvio em uma refeição, encaram a situação toda como ?derrota?. E se já houve a falha, desistem de seguir firmes no propósito da dieta e se afastam do foco durante o final de semana inteiro.

Esse modo de agir é muito negativo e desestimulante. Trata-se de um padrão a ser quebrado, pois boicota o processo de emagrecimento de muitos pacientes, retirando a esperança da pessoa em alcançar seus objetivos.

 

2 - E qual o papel do acompanhamento com a nutricionista neste processo de mudança?

Fernanda Nahas:

Numa primeira consulta, já consigo avaliar o perfil específico do paciente. Alguns gostam de um programa mais ?radical?, com mais foco no resultado. Para este tipo, normalmente, podemos montar uma dieta mais rica em proteínas, com menos carboidratos, impactando mais no apetite. Desse modo, alcanço mais adesão deste tipo de paciente, para que ele visualize o resultado num prazo mais curto.

Mas, certamente, a pessoa precisa persistir no tratamento, mesmo perante as dificuldades e recaídas. Por isso, sempre reforço o papel da consulta. É comum termos a situação daquele paciente que saiu um pouco da dieta e que, então, fica com receio de vir consultar. No entanto, é exatamente neste momento que ele não pode perder o acompanhamento. Na consulta, encaramos o problema e o relativizamos. O erro nunca é tão grande como parece para o paciente. Nessa hora, trabalhamos novamente na motivação. A pessoa sai renovada, com novo ânimo para retomar a dieta sem tantos deslizes.

 

3 - O mercado oferece muitos estímulos de comidas calóricas (vistas como ultra saborosas) e comidas prontas e ultraprocessadas (já que muitos alegam não ter tempo de cozinhar). Somado a esta oferta, há um ritmo de vida estressante e a busca de compensação por meio da comida para aliviar a ansiedade.

Que estratégias usar para lidar com estes estímulos e com esta ansiedade, sem cair em hábitos alimentares nada saudáveis?

Fernanda Nahas:

Essas comidas mais industrializadas a que as pessoas recorrem com frequência costumam ser muito gordurosas, contendo o pior tipo de gordura (hidrogenada). E essa gordura estimula o paladar, fazendo com que a pessoa coma mais. É um círculo vicioso que precisa ser quebrado.

Para começar a quebrar isso, as pessoas precisam se informar mais sobre o que consomem e os impactos de cada tipo de comida em seu organismo. Sabemos que alimentos gordurosos estimulam a orexina, o hormônio da fome. Consumir tais alimentos só faz gerar mais fome. Do mesmo modo, temos o açúcar. Quanto mais ele é ingerido, mais a pessoa sente a necessidade de buscar o doce. Ou seja, há um envolvimento do lado psicológico e, também, do fisiológico.

No caso do açúcar, ele impacta no hormônio insulina, aumentando a excreção do cromo na urina. E o cromo é exatamente um mineral que diminui a vontade de ingerir o doce, além de ser necessário para outras funções no nosso organismo. Assim, quanto mais se come doce, mais se deseja o doce.

Desse modo, é preciso se informar e então evitar estes tipos de alimentos que não são benéficos. Mesmo que não haja uma redução na quantidade de comida num primeiro momento, somente fazendo a troca de itens não saudáveis por comida de verdade, a mudança tem início e o corpo terá impactos positivos.

 

4 - Na prática, vale anotar o que se come? Que ações devem ser adotadas na rotina?

Fernanda Nahas:

Sim, sempre recomendo a meus pacientes a estratégia de manter um diário alimentar. Isso funciona muito. Por meio das anotações, a pessoa visualiza o número de vezes que consumiu alimentos inadequados. Ela consegue saber quantas ?saídas? do esquema alimentar ela fez. E, neste processo, se conscientiza mais e reduz os hábitos ruins.

Ao mesmo tempo, com essa tomada de consciência, passa a se alimentar melhor, com alimentos mais frescos no lugar dos industrializados. Vale a máxima: ?quanto menos embalagem, melhor?. E atualmente, não há desculpas como a falta de tempo para cozinhar ou mesmo picar uma fruta. Diversos lugares ou empresas entregam comidas saudáveis, congeladas ou frescas. Saladas, frutas, tudo está disponível para entrega, para levar. Basta que a pessoa planeje sua alimentação para a semana e se organize para executar. A ?boa intenção? é válida, mas é preciso colocar as ações em prática para ter os alimentos saudáveis disponíveis na hora da forme. Se não, sabemos que será fácil cair em tentação e pegar a primeira coisa que estiver na frente ? que costuma ser algo não saudável.

Para além do delivery, também podemos montar lanches naturais muito práticos. Sugiro levar de casa porções de castanhas, ovo cozido, frutas. Não há desculpa quanto à praticidade desse tipo de coisa. Banana, maçã, goiaba, ameixa, pêssego ? exemplos de uma grande variedade de frutas que não precisam ser descascadas. Estão prontas para consumo.

 

5 - E sobre a questão do uso da comida para aliviar a ansiedade?

Fernanda Nahas:

Este é outro ponto muito importante a esclarecer. Obviamente, vivemos num mundo com diversos fatores estressantes, que podem gerar grande ansiedade. Mas, ao mesmo tempo, está comprovado que as pessoas se tornam mais ansiosas em consequência dos maus hábitos alimentares.

A alimentação inadequada gera problemas na flora intestinal. E a serotonina é fabricada, quase que totalmente, na flora intestinal. Então, 98% da serotonina tem ligação com o intestino. E se não fabricamos a serotonina em função da má alimentação, ficamos mais ansiosos e compulsivos.

Ou seja, é preciso inverter essa lógica de comer para aliviar uma tensão. Muitas tensões surgem, primeiramente, pelo hábito alimentar inadequado. Quanto pior a pessoa se alimenta, mais ansiosa ela fica. De modo inverso, se o paciente se alimenta bem, equilibra sua flora intestinal e produz mais serotonina, o hormônio do bem-estar.

Outro ponto: o triptofano, que é o precursor da serotonina. Ele está em alimentos como a banana, a lentilha, o grão de bico. Então, se a pessoa ingerir comida processada e não o alimento natural, não terá acesso ao triptofano para fabricar a serotonina. Também, não terá magnésio e muitas vitaminas do complexo B, que são importantes para produzir essa serotonina que diminui a ansiedade.

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