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Marcelo Trombka: a habilidade de viver no modo mindful

Marcelo Trombka: a habilidade de viver no modo mindful

28/10/2020
Marcelo Trombka: a habilidade de viver no modo mindful

Frente ao ritmo de vida frenético da atualidade e seu impacto em nossa saúde física e mental, a habilidade de viver mais no ?modo mindful? é preciosa para quem busca bem-estar, foco e qualidade de vida. A seguir, publicamos o texto que resultou de uma entrevista com o médico Marcelo Trombka*, especialista no assunto.

Eu vejo o Mindfulness como algo parecido com a atividade física, no sentido de também ser um treinamento. Poderia dizer que é uma ?musculação cerebral?, seria algo como exercitar o músculo cerebral da atenção.

Existe uma ideia de que meditar é difícil, que não é para qualquer pessoa. Mas ocorre o mesmo processo quando iniciamos uma atividade física. Da mesma forma que levamos alguns meses para obter um bom condicionamento, é preciso praticar as Meditações Mindfulness e o Mindfulness no cotidiano com regularidade. Assim, ele se tornará cada vez mais habitual. O corpo e a mente vão se adaptando.

Atualmente, todos sabem dos benefícios que a atividade física traz para a saúde, bem como a alimentação saudável e o sono adequado. As diretrizes cada vez reforçam mais a importância da prevenção e da promoção da saúde. Nos últimos anos, as práticas de mindfulness e meditação entraram neste rol, passando a fazer parte das ações preventivas e de cuidados com a saúde baseadas em evidência.

Existem evidências que demonstram que o treinamento em Mindfulness promove aumento de bem-estar e qualidade de vida, melhora da memória e da criatividade, além da reduzir ansiedade, estresse, sintomas depressivos e dor crônica.

De fato, a neurociência demonstra o aumento da ativação e o maior volume de regiões específicas do cérebro como o córtex pré-frontal, o hipotálamo e a ínsula em quem pratica Mindfulness. Estas áreas estão relacionadas ao controle atencional, memória, regulação das emoções, tomada de perspectiva e autoconsciência.

Nosso cérebro é ?esculpido? ao longo de toda nossa vida de acordo com as novas experiências. Esta plasticidade cerebral é fascinante, pois chancela que não somos vítimas do nosso passado; temos o potencial de recriarmos nossa mente e nossa realidade dia após dia.

Mas, afinal, como definir Mindfulness? É o estar atento e aberto ao que acontece enquanto acontece. Possui 2 componentes: atenção e atitude. É prestar atenção no momento presente, intencionalmente, sem julgamentos. Sem julgamentos quer dizer ter uma atitude aberta, gentil, com aceitação e curiosidade para cada experiência de nossa vida.

Isto chamamos de ?mente de principiante?. Em contraponto ao habitual modo ?piloto automático?, exercitamos (é um treino) a capacidade de se relacionar de uma maneira radicalmente diferente com cada experiência que compõe a nossa vida, observando a experiência direta de cada momento como se fosse a primeira vez. Em uma sociedade que nos estimula a todo instante a nos distrair, ter, comprar, rotular, julgar, poder parar e estar presente me parece algo ?revolucionário? - se não fosse milenar.

Pesquisas mostram que o ser humano passa, em média, metade das nossas vidas com a mente absorta no passado ou no futuro. Este excesso, muitas vezes, contribui para sintomas de depressão e ansiedade, respectivamente. Poder trazer essa qualidade de atenção que falamos para o momento presente, seja para os relacionamentos afetivos, trabalho ou lazer, seja para pequenas experiências do cotidiano, como sentir o sabor da comida ou toque da água no banho, é super importante para nossa saúde mental. Alguns autores chamam isso de iluminação ?contemporânea?, não precisamos necessariamente abandonar tudo, ir lá para o Himalaia ou para baixo de uma árvore. Sabemos que cerca de 30% dessa capacidade de atenção ao presente está relacionado a nossa genética, felizmente 70% é treinável, é uma habilidade que podemos melhorar.

E como acontece esse treino? Classicamente, temos as práticas meditativas, que são milenares e presentes em diversas culturas, com diferentes técnicas. Do ponto de vista cognitivo, a meditação mindfulness está dentro da família das técnicas meditativas atencionais. Foram adaptadas das tradições contemplativas orientais para a nossa cultura. Não se trata de algo esotérico. É para a vida prática mesmo.

Também temos as práticas de mindfulness ditas ?informais?, quando ancoramos nossa atenção ao momento presente em atividades do dia-dia. Conectar aos sentidos durante o banho, com atenção a temperatura da água, toque do sabonete no corpo, seu cheiro, por exemplo, é uma maneira, por exemplo. Também, é possível praticar mindfulness durante os movimentos naturais do cotidiano, como quando caminhamos ou em uma atividade física, conectando-se ao momento presente por meio das sensações do corpo. É preciso desligar do estado de ?piloto-automático?, em que as coisas passam e não percebemos por não estarmos efetivamente presentes. Como disse certa vez John Lennon, a vida é aquilo que acontece enquanto você está planejando o futuro.

 

*Marcelo Trombka é Médico (UFCSPA), Sócio da Associação Brasileira de Psiquiatria. Doutorado em Psiquiatria e Ciências do Comportamento em andamento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instrutor de Mindfulness certificado pelo Mente Aberta - Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção de Saúde - Universidade Federal de São Paulo. Treinamento em Mindfulness-Based Cognitve Therapy pelo Oxford Mindfulness Centre. Oferece palestras, workshops e grupos de mindfulness para o público em geral e empresas na Região Sul do Brasil.

Site: www.vivamindfulness.com.br // E-mail: contato@vivamindfulness.com.br

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